A delegação do Comitê Popular da Copa de Pernambuco sensibilizou todos os que estiveram presentes no I Encontro de Atingidos – Quem perde com os megaeventos e megaempreendimentos? O evento começou no dia 1º de março e foi encerrado com protesto no relógio da Fifa em Belo Horizonte, realizado no último sábado.
O momento em que representantes de comunidades das diversas cidades-sedes presentes falaram sobre a situação vivida, revelou novas e antigas lutas durante o Encontro dos Atingidos e a das moradoras do Loteamento São Francisco, em Camaragibe, foi destacada por poucos saberem das doenças e das sete mortes que foram denunciadas pelo Comitê Popular da Copa de Pernambuco. Para a entidade, os idosos que faleceram sofrendo por estresse, AVCs e doenças relacionadas a depressão durante ou após as remoções promovidas pelo Governo de Pernambuco também devem ser contabilizados entre as mortes do Mundial de 2014.
Centenas de pessoas expressaram a indignação de quem vem sofrendo com a realização das obras da Copa e das Olimpíadas durante o Encontro dos Atingidos. Para a Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa, o sucesso do encontro “foi uma demonstração clara de que o povo quer ter voz. E que a representação direta das comunidades é uma estratégia importante para que as pessoas se enxerguem nas diferentes batalhas e encontrem onde podem unir as forças”.
Um dos momentos mais emocionantes do I Encontro dos Atingidos foi quando a moradora do Loteamento São Francisco, Adjailma Pereira, falou para toda a plateia e revelou o que considera “a maior desgraça dessa Copa”. Representando uma comunidade praticamente destruída para a construção de duas obras que não devem ficar prontas para a Copa do Mundo (o Ramal da Copa e a ampliação do Terminal Integrado de Camaragibe, na Região Metropolitana do Recife), Adjailma Pereira contou um pouco da história seu antigo bairro.
O loteamento era um bairro em que as pessoas compraram os terrenos e começaram a ocupar no início da década de 60, mas que teve mais de 200 casas destruídas, pelo menos sete pessoas morreram vítimas do estresse e da depressão causados pela forma antidemocrática e hoje muitos dos desapropriados ainda sofrem para receber suas indenizações e tentar voltar a terem suas casas próprias.
Adjailma representou as quatro moradoras da comunidade presentes ao encontro e contou que “75% das pessoas da comunidade não receberam suas indenizações e ainda estão precisando morar em casas de parentes ou de aluguel, quando muitos são idosos e moravam ali a mais de 50 anos”. Moradores da comunidade têm se unido e feito movimentos para tentar garantir diminuir os impactos da violência sofrida, com o apoio do Comitê Popular da Copa de Pernambuco, mas as lideranças nunca chegaram a conseguir nem mesmo uma reunião com o ex-governador e agora candidato à presidência Eduardo Campos e só tiveram reunião com o procurador Geral do Estado, Thiago Norrões, após fechar a sede da PGE, no Recife. Agora, o pleito é para que sejam atendidos pelo governador João Lyra.
Desapropriada de sua residência, Adjailma denunciou que apesar do Loteamento São Francisco ficar a apenas seis quilômetros da Arena Pernambuco, a obra do Ramal da Copa (que ligaria Camaragibe ao estádio) que causou tanto sofrimento está “no barro” e não deve ficar pronta para o Mundial. As remoções, que foram feitas na grande maioria em 2013, destruíram centenas de vidas, higienizando um caminho que nem mesmo será aproveitado pelos turistas que vierem a Pernambuco para o Mundial e integrantes do Comitê Popular da Copa acreditam que isso pode ser mais uma estratégia para afastar as manifestações, como a própria construção de um estádio que fica a mais de 20 quilômetros do Centro do Recife e a desistência da Prefeitura do Recife de realizar a Fifa Fan Fest.
Esporte para todos
Centenas de outras comunidades também foram ouvidas em Belo Horizonte. Representante do Rio de Janeiro, a treinadora de atletismo Edneida Freire falou sobre um dos principais símbolos da luta pelo esporte para todos no Brasil. Ela fez parte do Projeto Rio 2016, “desde o dia 9 de janeiro de 2013 estamos na rua lutando por essa criançada que não tem como pagar por um esporte elitizado”, diz ela, defensora do Célio de Barros e dos outros equipamentos culturais e esportivos ameaçados no entorno do Maracanã.
“Fui atleta do atletismo e saí da comunidade também e dentro dessa minha casa que é o esporte a gente recupera muita gente”, disse ela, deixando claro que a luta dos atingidos pelas obras da Copa e das Olimpíadas se soma à de quem quer democratizar o acesso ao esporte no Brasil.
Com a grande demanda para falar, a organização do Encontro dos Atingidos anunciou que haverão outros momentos para as denúncias dos representantes das comunidades. Os participantes do encontro finalizaram a manhã reunidos em grupos para a troca de experiências.
Vejam o vídeo feito pela Memória Latina com depoimentos do Comitê Popular da Copa de Pernambuco e de pessoas de outros estados: https://www.youtube.com/watch?v=v4qHRTF2jgw